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Tropas da NATO na Ucrânia. O que levou Macron a sugerir uma ideia que depois todos negaram?

Chefe de Estado francês levantou hipótese de países europeus enviarem soldados para a Ucrânia, mas nenhum líder o acompanhou. Afirmação tem mais foco em Berlim do que em Moscovo.

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A reunião foi arranjada em tempo recorde. Uma semana depois do Fórum Internacional de Segurança, em Munique, o Presidente francês Emmanuel Macron recebeu esta segunda-feira 20 chefes de Estado e de governo no Palácio do Eliseu para falar sobre o apoio à Ucrânia. Seis horas depois, surgiu no palanque para a conferência de imprensa sozinho, no final, e fez uma declaração polémica: “Não há um consenso atualmente para enviar oficialmente tropas [para a Ucrânia]”, disse. “Mas nada está excluído.”

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O encontro de segunda-feira no Eliseu reuniu 21 líderes de governo e de Estado

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Com esta quatro palavras, o Presidente francês quebrava um tabu até aqui inviolável desde o início da invasão russa de larga escala à Ucrânia. Colocava em cima da mesa a possibilidade de países da NATO enviarem soldados para combater diretamente contra a Rússia no terreno — algo até aqui excluído pela maioria, por receio de iniciar um conflito aberto entre Moscovo e a Aliança Atlântica.

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Macron não confirmou se França quer mesmo avançar para este cenário, nem quantos países naquela mesa no Eliseu concordaram com a ideia. “Não vou desfazer a ambiguidade dos debates desta noite mencionando nomes. Estou só a dizer que esta foi uma das opções mencionadas”, disse.

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Uma “ambiguidade estratégica”, elaborou, que Paris parece estar interessada em manter para fazer frente a Moscovo e reforçar publicamente o apoio ao Kiev. E uma ideia que não é nova — ainda em junho, o antigo secretário-geral da NATO, Anders Rasmussen, levantou a possibilidade de se criar uma “coligação dos disponíveis”, com destaque para países como a Polónia e os Bálticos, que enviassem tropas para a Ucrânia.

“Temos de os preparar. Esta é uma decisão muito importante, que deve ser coletiva. É preciso tempo para organizar este tipo de intervenção no terreno de forma progressiva.”
Fonte diplomática europeia ao Le Monde sobre possibilidade de enviar tropas

Na sequência do encontro no Eliseu, uma fonte diplomática europeia dizia ao Le Monde que Paris estará a tentar levantar esta possibilidade, que levaria tempo a arrancar, para plantar a ideia entre os países europeus: “Temos de os preparar. Esta é uma decisão muito importante, que deve ser coletiva. É preciso tempo para organizar este tipo de intervenção no terreno de forma progressiva.”

Ideia rejeitada do norte ao sul e do leste ao oeste da Europa. “Um convite à III Guerra Mundial”?

O cenário traçado pelo Presidente francês, não teve, porém, qualquer eco por parte de outros governos europeus. Nem sequer da Polónia, por exemplo, país apontado em tempos por Rasmussen como disponível para fazer parte da “coligação dos disponíveis”: “A Polónia não planeia enviar as suas tropas para o território da Ucrânia”, afirmou taxativamente o primeiro-ministro Donald Tusk.

A resistência à ideia foi transversal. No sul, o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, disse claramente que “não há nenhum cenário onde essa questão se tenha colocado”; o líder Kyriakos Mitsotakis disse ser uma questão “que para a Grécia não existe”; e a porta-voz do governo espanhol disse ser uma posição com que Madrid “não concorda”.

A norte, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, também desvalorizou a ideia (“a tradição francesa não é a tradição sueca”) e o homólogo britânico, Rishi Sunak, disse não haver “quaisquer planos para uma mobilização de larga escala”.

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Apesar do apoio à Ucrânia, maioria dos países europeus rejeitou ideia de enviar tropas

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Outros países do grupo de Visegrado, alguns deles mais próximos de Moscovo, foram ainda mais taxativos na rejeição: “Há países que dizem ‘nunca’ a isto e a Eslováquia é um deles”, resumiu o primeiro-ministro Robert Fico. Foi apoiado depois pelo chefe de governo húngaro, Viktor Orbán: “Querem arrastar-nos para esta guerra, mas peço-vos que não cedam a provocações”.

A posição de Moscovo, como seria de esperar, foi de irritação: “Nesse caso estaríamos a falar não de uma probabilidade, mas da inevitabilidade” de um conflito entre a Rússia e a NATO, avisou o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov. E, poucas horas depois, o próprio secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, colocava água na fervura, dizendo que “não há planos para tropas de combate da NATO no terreno na Ucrânia”.

Dentro de portas, os vários líderes partidários franceses também criticaram fortemente Emmanuel Macron, como resumiu um analista do Eurasia Group, Mujtava Rahman: “As palavras do Presidente foram atacadas hoje e definidas como ‘loucas’ e como um convite à III Guerra Mundial pelos líderes da oposição francesa”, escreveu no X. “É mais um exemplo de uma declaração dura que não pode ser aplicada na prática?”

França e Alemanha em disputa sobre quem apoia mais Kiev

Perante uma reação tão negativa às declarações de Macron — que ecoam certamente as reservas levantadas em privado na reunião do Eliseu — por que razão terá o Presidente francês decidido abordar o assunto em público?

A resposta pode estar no resto da própria conferência de imprensa feita pelo chefe de governo francês no Eliseu, onde, mais do que atacar Vladimir Putin, pareceu estar investido em lançar farpas ao governo alemão. “Muitos dos que dizem hoje ‘nunca, nunca’ são os mesmos que que há dois anos disseram ‘nunca, nunca’ aos tanques, aos aviões, aos mísseis de longo-alcance”, afirmou Macron. “Lembro-vos que, há dois anos, muitos dos que estão a esta mesa disseram ‘Vamos oferecer sacos-cama e capacetes’ [à Ucrânia]”. Se com a primeira frase poderia haver dúvidas sobre a quem se referia o Presidente francês, a segunda foi bastante clara: o alvo era, claramente, Berlim.

“Fico contente por França estar a pensar em como aumentar o seu apoio à Ucrânia, mas, se puder dar um conselho, [sugiro] fornecer mais armamento.”
Robert Habeck, vice-chanceler alemão

O governo alemão apressou-se a reagir. Menos de 24 horas depois, o chanceler Olaf Scholz disse claramente aos jornalistas: “Aquilo que foi acertado entre todos nós e que se aplica ao futuro é que não haverá soldados em solo ucraniano enviados por Estados europeus ou da NATO”. Ao mesmo tempo, outros líderes políticos alemães retaliavam contra Paris: “Houve uma proposta de reflexão do Presidente Macron que, aparentemente, ninguém seguiu”, afirmou o ministro da Defesa Oscar Pistorius. O vice-chanceler, Robert Habeck, foi ainda mais ácido, segundo o Financial Times: “Fico contente por França estar a pensar em como aumentar o seu apoio à Ucrânia, mas, se puder dar um conselho, [sugiro] fornecer mais armamento.”

A mensagem de Berlim toca num nervo para os franceses, alvo de críticas no início da ofensiva por hesitações no apoio a Kiev, que ainda hoje se mantêm. Ainda esta terça-feira, o analista Mark Galeotti, na Spectator, lembrou que “a ajuda [de França] à Ucrânia corresponde a 0,07% do seu PIB, uma das mais baixas da Europa (comparada com 0,55% no Reino Unido e 0,69% na Polónia)”.

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Emmanuel Macron e Olaf Scholz trocaram farpas sobre o apoio à Ucrânia

Bloomberg via Getty Images

As declarações de Emmanuel Macron podem ser, por isso, não apenas uma tentativa de se destacar face à Alemanha, mas também a apresentação de uma nova postura no que diz respeito à Ucrânia, com Paris a vestir o fato de paladino de Kiev. A iniciativa da reunião apressada no Eliseu, por exemplo, terá agradado ao governo ucraniano, com o Presidente Volodymyr Zelensky a dirigir-se por videochamada aos presentes e, em particular, ao “querido Emmanuel”, como conta a Der Spiegel.

Os ucranianos, porém, reagiram cautelosamente à proposta de Macron. Até porque, na prática, pode não passar de bluff para assustar a Rússia em público. Afinal de contas, dois dias antes, o Presidente francês teve uma postura bastante diferente quando se encontrou com Zelensky em privado. De acordo com o Wall Street Journal, Emmanuel Macron disse ao Presidente ucraniano que tem sido um grande líder em tempos de guerra, mas que é altura de começar a pensar em termos políticos e “tomar decisões difíceis” no que diz respeito ao conflito com a Rússia. “Até inimigos mortais como França e Alemanha tiveram de fazer a paz depois da II Guerra Mundial”, terá dito.

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