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Trimestre marcado pela quadra festiva em dezembro tende a significar um consumo “significativo” pelas famílias

NurPhoto via Getty Images

Trimestre marcado pela quadra festiva em dezembro tende a significar um consumo “significativo” pelas famílias

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Consumo das famílias não treme e dá presente à economia no final do ano

O consumo voltou a puxar pela economia na reta final do ano, mas incerteza do pós-eleições pode agora baralhar as contas. Exportações de bens continuaram a cair, embora menos.

A economia ganhou gás na reta final do ano, depois de uma queda nos meses de verão. Não só evitou a recessão técnica como superou as expectativas de vários analistas, ao crescer 0,8% no último trimestre de 2023 em cadeia e 2,2% na comparação homóloga, colocando o crescimento do ano nos 2,3% — uma décima acima do previsto pelo Governo. Os dados são ainda provisórios, pouco detalhados quanto ao contributo de cada componente, mas permitem já perceber que é o consumo das famílias que continua a puxar pela economia.

“O contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB manteve-se elevado no 4.º trimestre, verificando-se uma aceleração do consumo privado e uma desaceleração do investimento“, indica o destaque do INE publicado esta terça-feira, que ainda não detalha valores por componente (esses montantes serão conhecidos a 29 de fevereiro).

Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, lembra que o trimestre marcado pela quadra festiva em dezembro tende a significar um consumo “significativo” pelas famílias. O “aumento do recurso às poupanças e ao cartão de crédito poderá justificar o bom desempenho do consumo privado, mitigando a normal diminuição da propensão ao consumo num contexto de redução do rendimento disponível”, causado pela subida das taxas de juro.

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Além disso, admite que “eventuais” aumentos salariais acima da média nalgumas empresas podem ter ajudado a manter o poder de compra e os padrões de consumo de algumas famílias. Ainda assim, “não deixa de ser surpreendente que seja ainda o consumo privado a suportar a economia nacional“.

Até quando é que o consumo terá este papel? Há efeitos contrários que dificultam a resposta. Paulo Rosa diz que à medida que as poupanças das famílias diminuem “é provável” que o consumo privado perca gradualmente peso no PIB, “contribuindo cada vez menos para a riqueza nacional”. Mais: a desaceleração da inflação considerável que se tem sentido nos últimos meses poderá “indiciar abrandamento económico” ou sinalizar a diminuição do poder de as empresas fixarem preços, o que limita aumentos salariais — “importantes no contexto de um PIB que cresce suportado pelo consumo privado”. Mas, por outro lado, a desaceleração da inflação incentiva ao consumo.

Pedro Braz Teixeira, economista e diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, lembra, por sua vez, que a taxa de crescimento das prestações do crédito à habitação embora ainda seja positiva está a abrandar. Isso não significa que as pessoas já estejam a “libertar” rendimento para consumo, mas traz-lhes uma “sensação de alívio”. Além de que a conversa pública sobre as taxas de juro mudou de tom: já se fala em descidas, não se sabe é quando. “Embora isso demore a repercutir-se nas pessoas, têm essa expectativa. Veem uma folga, mesmo que não esteja já no bolso.”

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A baralhar as contas está também a incerteza sobre a situação política que sairá das eleições de março. Em teoria, o país pode demorar meses para ter novo governo. E isso influencia as decisões familiares, que podem passar por adiar decisões de consumo mais importantes — ou porque não sabem o que aí vem ou porque querem esperar para ver se as promessas eleitorais se concretizam. “Por exemplo, pode haver promessas que signifiquem um alívio nos preços dos carros elétricos. As pessoas adiam essa decisão”.

Para o economista, o crescimento de 0,8% “surpreendeu”. “Havia previsões muito variáveis”, desde queda até um crescimento de 0,6%, “mas ninguém previa 0,8%”.

Efeito Autoeuropa?

Tendo em conta alguns indicadores parciais já conhecidos, a equipa de economistas do BPI — que previa um crescimento no último trimestre entre 0,3% e 0,6% — acredita que o gás no consumo que se verificou no final do ano pode justificar-se com a aceleração do consumo de bens duradouros, que estava a afundar no terceiro trimestre. Nesta categoria estão produtos, como automóveis ou eletrodomésticos, feitos para durarem mais anos. A venda de automóveis por exemplo “acelerou no final do ano”, indicam.

Os dados do INE ainda não permitem perceber como evoluiu esta categoria. Pedro Braz Teixeira sublinha, por outro lado, que “normalmente” os consumos de bens duradouros têm uma componente importada “muito forte”, que o comportamento das importações ainda “não sugere muito”.

Segundo outro destaque do INE conhecido esta terça-feira, no último trimestre de 2023 as exportações caíram 1,9% e as importações 5,4% em termos homólogos. As quedas acontecem pelo terceiro mês consecutivo mas são bem menos significativas do que no trimestre anterior (-8,7% e -12,4%, respetivamente). Braz Teixeira prefere não falar numa “recuperação” das exportações e coloca as coisas noutros termos: “Não estão tão más como estavam“. E lembra o efeito da Autoeuropa, que suspendeu a produção em setembro mas só retomou a laboração normal a 23 de outubro. A fábrica de Palmela previa fechar o ano com uma produção recorde de 235 mil unidades, mas ficou pelas 220 mil, ainda assim mais 14,09% face a 2022.

Paulo Rosa, do Banco Carregosa, também salienta que a procura externa líquida passou a positiva no quarto trimestre face a período homólogo mas devido a uma diminuição das importações de bens superior à redução das exportações. E isso pode significar que os portugueses “estão a consumir menos bens estrangeiros“, o que é positivo para o crescimento português.

O BPI também salienta que, na variação em cadeia, a procura externa líquida “manteve um contributo negativo”, embora menos do que nos três meses do verão. A pesar na procura externa “poderá estar o incremento das importações de material de transporte, insuficientemente compensada por um bom comportamento das exportações de serviços, sobretudo serviços turísticos, cujos indicadores se revelaram robustos nos últimos meses do ano“. De facto, salientam os economistas da instituição, os dados do turismo nas épocas baixas “têm vindo a revelar alterações que se manifestam em surpresas positivas no desempenho trimestral do PIB”.

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Para o BPI o comportamento do consumo privado “continuará suportado pela fortaleza do mercado de trabalho e, muito possivelmente, pelo aproveitamento de poupanças acumuladas nos anos da pandemia e que as famílias estão a direcionar para a redução do endividamento, através de amortização de crédito à habitação, reduzindo nos seus orçamentos o impacto do aumento das taxas de juro e libertado rendimento para consumo”.

No futuro próximo, o consumo privado deverá reduzir o contributo para o crescimento mas deverá manter-se “suportado pela robustez do mercado de trabalho e pela perspetiva de acréscimo do rendimento disponível real das famílias”.

Investimento antecipa desaceleração em 2024

Se o consumo acelerou, o investimento perdeu gás, depois de ter recuperado em cadeia no trimestre anterior. Para os economistas do BPI, este comportamento estará a refletir “o aumento dos custos de financiamento” e a “perspetiva de desaceleração da atividade em 2024”, tanto em Portugal como nos principais parceiros comerciais.

No total do ano, em que o país cresceu 2,3% — uma desaceleração face aos 6,8% de 2022 —, o consumo privado e o investimento cresceram menos do que em 2022. Em 2024, a rubrica do investimento “continuará a ter um comportamento positivo, reflexo dos fundos europeus que serão recebidos até ao final do ano e da possível aceleração da sua execução, apesar das alterações governativas” e das eleições de 10 de março.

Mas o banco admite que a chamada formação bruta de capital fixo — que ajuda a medir o investimento numa economia — poderá, este ano, “revelar menor pujança, resultado de custos de financiamento ainda elevados e procura global contida”.

Paulo Rosa acrescenta que à medida que as taxas de juro sobem, “os projetos viáveis vão escasseando e os empresários tendem a ser mais prudentes e criteriosos nos seus investimentos”. A cautela é também provocada pelas “fracas perspetivas” para o crescimento na Zona Euro e nos EUA em 2024.

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O economista recorda que mesmo num eventual ciclo de descida das taxas de juro pelo BCE este ano, a decisão não tem repercussões imediatas na economia, pelo que não é de esperar um aumento “relevante” do investimento.

Braz Teixeira refere que o investimento serve para repor a capacidade produtiva ou aumentá-la. “Dado que as perspetivas de 2024 são relativamente fracas quer em termos externos quer internos, as empresas sentem que não se justifica estar a aumentar a capacidade produtiva“.

Zona Euro evita recessão por um triz à boleia das economias do sul

Além de Portugal, também a Zona Euro escapou à recessão técnica. Mas “por pouco”, nas palavras de Bert Colijn, economista sénior do ING Bank.

No bolo da Zona Euro, os dados do Eurostat revelam que, no quarto trimestre, o PIB estabilizou em cadeia e cresceu apenas 0,1% em termos homólogos. Portugal foi a economia da Zona Euro que mais cresceu tanto em cadeia como na comparação homóloga. Aliás, as economias do sul da Europa foram as que lideraram o crescimento e as “principais responsáveis por evitar uma recessão técnica” — Espanha cresceu 0,6% em cadeia e Itália 0,2%.

Se não fossem estes valores, o cenário estaria mais negro. Para o ING Bank, após uma “fase dinâmica” de reabertura após a pandemia, a economia “entrou agora numa fase de fraqueza prolongada“, que tem a Alemanha como principal motor. No quarto trimestre, a economia alemã recuou 0,3% em cadeia e 0,2% na comparação homóloga, com o país “a debater-se com a fraca procura global de bens” e a indústria pesada “a sofrer com os preços da energia mais elevados”, avalia Bert Colijn.

O crescimento dos salários tem sido lento a ajustar-se à inflação, o que tem prejudicado o consumo no cômputo geral. “Na Zona Euro, o consumo está a sofrer muito mais com o pico de inflação elevada porque o crescimento dos salários tem sido lento a ajustar-se“, o que levou a quedas reais nos salários.

Mas o ING Bank vê luzes ao fundo do túnel: ainda que lentamente, os salários crescem e os inquéritos de conjuntura mostram sinais de recuperação. Não que isso signifique um “aumento significativo” do PIB no primeiro trimestre — esse comportamento na Zona Euro só deverá verificar-se  “muito mais para o final do ano”.

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