Os ataques no Mar Vermelho estão a ter impacto nos mercados internacionais, desde logo com a decisão de várias empresas de suspenderem o tráfego naquela zona fundamental para a rotas comerciais entre a Ásia e a Europa. Depois de o secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin, ter estado reunido com o ministro israelita da Defesa, anunciou “uma coligação internacional para enfrentar esta ameaça” e já se juntaram dez países.

Além dos EUA, Reino Unido, Bahrain, Canadá, França, Itália, Países Baixos, Noruega, Seychelles e Espanha juntam-se à união que servirá para travar os ataques no Mar Vermelho para que os navios possam navegar em segurança.

Em causa estão os ataques reivindicados pelos Houthis do Iémen, o grupo xiita apoiado pelo Irão que controla parte do país e que luta contra o governo reconhecido internacionalmente. O grupo há muito que tem sido protagonista em ataques contra Israel, em defesa da Palestina, mas no início da semana passada, um comunicado do porta-voz do grupo dava conta de que todos os “navios ligados a Israel ou que transportem mercadorias” para Israel não seriam bem-vindos no Mar Vermelho. E o grupo não tem dado tréguas.

Ao longo dos últimos meses o grupo atingiu vários navios no estreito de Bab-el-Mandeb, que separa a península Arábica de África, e no fim de semana atacou um navio petroleiro, o que espoletou a reação quase imediata de várias empresas.

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A empresa de transportes marítimos Maersk foi a primeira a anunciar a suspensão de todos os carregamentos de contentores pela rota que atravessa o Mar Vermelho. “Demos instruções a todos os navios da Maersk na área que passariam pelo Estreito de Bab el-Mandeb para interromperem a sua viagem até novo aviso”, revelou a empresa em comunicado.

A BP seguiu os mesmos passos e decidiu suspender “indefinidamente” o transporte de petróleo e gás através do Mar Vermelho, justificando, citada pela Bloomberg, que a segurança dos funcionários é a “prioridade”. E seguiu-se a Evergreen, uma das maiores empresas de transporte marítimo do mundo, que revelou que vai deixar de transportar carga israelita através do Mar Vermelho também para “a segurança dos navios e da tripulação” e com “efeito imediato”.

BP suspende tráfego nas rotas que passem pelo Mar Vermelho

Sendo o Canal do Suez a rota marítima mais rápida entre a Ásia e a Europa, a suspensão do transporte por parte de várias empresas não só obriga a reencaminhamentos que tornam o transporte mais caro como aumenta o tempo para que a carga chegue ao destino — o que, segundo o The Economist, pode transformar a guerra entre Israel e o Hamas num tema com implicações para o economia mundial.

Aliás, após a decisão da BP, o preço do barril de Brent para entrega em fevereiro já subiu mais de 3,7% no mercado de futuros de Londres devido a receios sobre o abastecimento.

No podcast Guerra na Terra Santa, do Observador, o historiador e especialista em segurança internacional Bruno Cardoso Reis alertou que, do ponto de vista do impacto a nível global, esta é “a frente mais importante”, já que se trata de uma “via de comércio marítimo absolutamente vital para a ligação entre Ásia e Europa”.

Os Houthis têm estado a fazer uma pressão crescente, a ameaçar e atacar deliberadamente navios de comércio civil e é bastante alarmante que uma das principais petrolíferas tenha dito que não quer que a sua própria frota não circule por essas águas porque são demasiado perigosas”, disse, referindo-se à suspensão de circulação da BP naquela região. Mais do que isso, o especialista sublinhou que o risco está no “efeito cascata” e que outras petrolíferas optem pela mesma estratégia.

Há menos de dois anos, em março de 2021, o Canal do Suez foi o centro das atenções quando um navio encalhou no local. Contas feitas na altura revelavam que o corte da travessia tinha um forte impacto global, sendo que 12% do comércio mundial passa pelo local. Por dia, o tráfego marítimo que passa por lá atinge os 9.600 milhões de dólares (8.150 milhões de euros), de acordo com uma estimativa da Lloyd’s List Intelligence, e apenas um dia após o barco ter encalhado já havia cem barcos a aguardar pela passagem.

Agora, com os Houthis do Iémen a ameaçarem dar continuidade a estes ataques a navio, o comércio mundial de mercadorias pode ser obrigado a mudanças, tendo em conta a extrema relevância do Canal do Suez.

UE garante coordenação contra ameaças à segurança

O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros condenou os ataques no Mar Vermelho reivindicados pelos rebeldes Huthis do Iémen e garantiu coordenação entre o bloco europeu e vários parceiros para combater as ameaças à segurança.

“A União Europeia (UE) condena veementemente os ataques Huthis no Mar Vermelho. Estamos em coordenação com os nossos parceiros para combater eficazmente essas ameaças à paz e à segurança”, afirmou Josep Borrell numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).

O chefe da diplomacia europeia sublinhou ainda que “a perturbação da navegação internacional e da segurança marítima é inaceitável e deve parar”.

Notícia atualizada às 22h20 com a informação de que os EUA encabeçam uma coligação para defesa do Mar Vermelho.