802kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Manifestação de sábado levou milhares de pessoas às ruas de várias cidades do país.
i

Manifestação de sábado levou milhares de pessoas às ruas de várias cidades do país.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Manifestação de sábado levou milhares de pessoas às ruas de várias cidades do país.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Da "bolha" para o protesto. Como o PS tenta evitar custos eleitorais da habitação

Socialistas nervosos com uma onda de protestos que vá em crescendo e que dê imagem de uma frente de ataque ao Governo. Esperam que resultados das medidas na habitação cheguem a tempo das legislativas.

A “frustração” com a Habitação é um problema que parece crescentemente transversal: não só se somam milhares de pessoas nas ruas a protestar contra a falta de condições para arranjar casas (e a preços comportáveis), como até o próprio primeiro-ministro já admite que se sente “frustrado” com o estado de coisas. E é nesse estado que se encontra também o seu partido: atacado dentro da “bolha”, mas agora — e mais importante — também nas ruas. O PS aflige-se com a questão da Habitação e tenta dissolver a ideia de que se esteja a formar uma nova — e sólida — frente de ataque contra o Governo.

Numa altura em que, nos corredores do PS, se ouvem dirigentes e deputados cada vez mais nervosos com um problema que parece não ter solução à vista — “todos nós conhecemos carradas de pessoas que estão a sofrer”, admite um deles ao Observador — Costa ensaia a estratégia: está tão solidário com as tais pessoas que sofrem que até se identifica com os motivos do protesto (como com nenhum outro) e concorda com os argumentos de fundo dos manifestantes. Uma solidariedade do primeiro-ministro que não se verifica — como garantiu esta segunda-feira em entrevista à CNN — com os alvos que escolheu, e que não quer que colham os frutos da insatisfação com o PS: PSD e o Presidente da República.

Travão às rendas, salário mínimo e pensões. O que Costa promete para o próximo ano

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Os argumentos das pessoas que estiveram a manifestar-se ao direito à habitação são opostos aos do PSD e do Presidente da República”, atirou Costa na CNN, logo depois de garantir que, de todas as manifestações que têm escolhido como alvo o seu Governo, esta é aquela em que mais se “revê”. Tudo porque, segundo a linha de argumentação do primeiro-ministro, as pessoas não estarão exatamente “contra” o pacote de medidas do PS — o famigerado Mais Habitação, que Marcelo e Luís Montenegro tanto criticaram; queriam, antes, que tivesse “ido mais longe”.

O problema é que o pacote é divisivo mesmo dentro do PS, e agora, com a série de medidas socialistas aprovada contra a vontade de Marcelo, sem outros apoios e com dúvidas até entre socialistas, mas sobretudo com a contestação a chegar à rua, o partido deita as mãos à cabeça e admite: este será mesmo o grande desafio do terceiro Governo Costa. Mais: para alguns, esta será a questão que pode começar a causar a real erosão — fora da “bolha mediática”, como se diz no léxico socialista — da base de apoio desta maioria absoluta.

PS dividido e cético sobre efeitos do pacote da Habitação

“A pressão está a rebentar com as famílias. Não se trata só dos casos mais dramáticos, mas dos das pessoas normais, aquelas para quem ninguém olha. É o tema que gera mais tensão social”, diagnostica um dirigente, garantindo que, fora da tal “bolha”, mais entretida a analisar a vertente puramente política e tática do assunto — a tensão entre Governo e Presidência da República, comprovada com a decisão do PS de confirmar sem alterações o diploma do Mais Habitação, que Marcelo Rebelo de Sousa vetara com palavras duras — existe uma insatisfação social bem real, que o Governo não pode ignorar.

Onde “se joga o futuro do Governo”

“Enquanto falamos da reconfirmação da lei não vemos as tensões que estão a germinar sobre isto. A Habitação neste momento, por força das taxas de juro, já é um problema do pobre, do remediado e do rico. Do proprietário, do pretendente a proprietário, do arrendatário”, frisa o mesmo dirigente. Outro concorda, classificando o problema da Habitação como uma “tragédia” e um “desastre em toda a linha” e sentenciando: “Aqui se joga o futuro do Governo”.

“É preciso termos cuidado para que isto não se transforme numa Geração à Rasca”, avisa, recordando as grandes manifestações no tempo da troika e a mobilização mais transversal da altura. Outros socialistas põem água na fervura — a temperatura das ruas está muito longe de atingir o ponto de ebulição que atingiu nos idos de 2011 e a população não vive “massacrada” como então — mas vão avisando: é preciso resolver o problema, e em menos de dois anos (leia-se: a tempo de o PS ir a eleições autárquicas e legislativas e não sair chamuscado pelo assunto).

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“A Habitação é um tema importante, por isso temos aumentado o apoio… mas o BCE não ajuda e as 26 mil casas [que António Costa promete desde o seu primeiro Governo] só chegam em 2026”, admite um dirigente socialista. Um pouco por todo o lado, e mesmo entre quem desvaloriza e põe o assunto em perspetiva — incluindo recorrendo a comparações com as massivas manifestações do tempo da troika — a questão da Habitação é vista como um problema a resolver, longe de estar fechado, e um potencial risco eleitoral.

Na Renascença, há dias, o dirigente e eurodeputado Pedro Marques assumia: a área da Habitação será “com certeza” uma das “áreas de avaliação mais significativas dos portugueses no final da legislatura” e um dos fatores que “influenciarão o seu sentido de voto”, possivelmente “penalizando” os socialistas.

Ao Observador, o socialista lembra que a crise da Habitação não é um exclusivo português — daí que António Costa tenha enviado uma carta sobre o assunto à Comissão Europeia — mas volta a assumir que quem está no poder “é penalizado, até pelo tempo que as medidas demoram a produzir efeitos no terreno”. “Os efeitos dificilmente chegam a tempo das eleições europeias, mas nas autárquicas e nas legislativas acredito que muita coisa já esteja no terreno“, calcula.

Pressão para mais medidas. “Estamos numa emergência ou não?”

O problema é que os cartões amarelos ao Executivo podem chegar antes disso, e o partido está atento. Por isso, nos corredores vão-se ouvindo avisos dirigidos ao Governo: dificilmente as soluções para a Habitação poderão ficar por aqui. “Temos de atacar o alojamento local em várias áreas e mexer nas regras… Não dá para ter turistas e pessoas a dormir ao mesmo tempo”, lamenta mais um dos deputados que não ficaram satisfeitos com o modelo final do Mais Habitação. “É preciso aumentar as medidas, mais tarde ou mais cedo. Estamos numa emergência ou não?“.

Isto além de existirem também críticas à gestão que o Governo tem feito do próprio problema. Um socialista considera que o primeiro-ministro se deixou enredar na “leitura de autarca” e fez da habitação “um problema nacional, quando esse é um problema local”. “Quando o Governo nacionaliza o problema está a arranjar um trinta e um“, argumenta. Já sobre as medidas tomadas até aqui, a mesma fonte diz tratarem-se de “soluções que não resolvem o problema” e que, antevê, não travarão a “progressiva insatisfação que vai acabar por pulverizar o sistema político”.

As discordâncias sobre a melhor forma de resolver o drama da Habitação não são, aliás, exclusivamente entre partidos ou órgãos de soberania: o próprio PS divide-se entre socialistas que é preciso cortar a eito no alojamento local e assumir medidas consideradas “radicais” para ver algum efeito prático na Habitação, e a ala mais moderada, que vai lembrando que é preciso “um ponto de equilíbrio”. “Os proprietários têm de ter alguma confiança. O nosso programa é de largo espectro e tem em conta também a necessidade de proteger a confiança de quem investe”, acrescenta Pedro Marques.

O primeiro-ministro, António Costa, participa no programa “O Princípio da Incerteza” - CNN Portugal Summit, que decorreu em Lisboa, 20 de junho de 2022. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

O próprio primeiro-ministro disse o mesmo, quando na entrevista desta segunda-feira assumiu que a fórmula do travão às rendas deste ano não se vai repetir no próximo ano, procurado outra “solução de equilíbrio” entre os 2% (tecto para as rendas neste ano) e os 6,95% (valor do aumento previsto para o ano) nas conversações que está a ter  com inquilinos e senhorios. E explicou o porquê desta reserva com a possível frustração de expectativas dos proprietários, sobretudo numa altura em que o Governo quer que estes coloquem casas no mercado para arrendamento. “É importante não quebrar esta confiança”, disse nessa entrevista.

Uma coisa é certa: ninguém no PS deseja passar a ideia de que o assunto está encerrado e não irá haver novas movimentações. Na entrevista desta segunda-feira, António Costa assumiu que haverá novo travão às rendas, mas sem dizer em que moldes; anunciou o fim dos benefícios para residentes não habituais; e pediu paciência para que se vejam os efeitos das medidas “moderadas” no terreno.

No dia anterior, o líder parlamentar socialista, Eurico Brilhante Dias, publicava no Diário de Notícias um artigo de opinião em que, além de enumerar as atenuantes — mais uma vez, o problema não é só português e o aumento das taxas de juro não ajuda — e as medidas já tomadas, reconhecia que “a questão inquieta a comunidade” e que as ruas “clamam — com razão — procurando respostas”.

Sem “balas de prata” e num momento de emergência, explicava Brilhante Dias, a aposta do PS teria de passar por mais construção pública (por via do Plano de Recuperação e Resiliência), mais promoção de rendas controladas, mais “ajustes” ao alojamento local. Conclusão do artigo, eco do que se vai ouvindo em vários setores do PS: “Há que continuar a trabalhar”. Na Habitação, não há margem para desvalorizar as queixas nem dar o assunto por encerrado — sob pena de as ruas se virarem seriamente contra o PS em plena maioria absoluta e a meses da próxima prova eleitoral.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Há 4 anos recusámos 90.568€ em apoio do Estado.
Em 2024, ano em que celebramos 10 anos de Observador, continuamos a preferir o seu apoio.
Em novas assinaturas e donativos desde 16 de maio
Apoiar
Junte-se ao Presidente da República e às personalidades do Clube dos 52 para uma celebração do 10º aniversário do Observador.
Receba um convite para este evento exclusivo, ao assinar um ano por 99€.
Limitado aos primeiros 100 lugares
Assinar agora Ver programa