Recentes indicadores econômicos da China deflagraram o sinal de alarme em torno do mundo, incluindo no Brasil, que vende 30% de suas exportações para o mercado chinês. No entanto, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) mantem projeções positivas para a segunda economia do mundo, para a India e para a Asia emergente como um todo.
Dados atualizados apresentados pela entidade neste domingo durante um encontro de negócios e investimentos da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) apontam que o crescimento da China demonstrará 'resiliência' em 2023 (5,4% comparado a 3% no ano passado). Em 2024 será mais fraco do que o esperado, em meio à desaceleração global, mas ainda assim com expansão de 5,1%.
Para a Índia, a expectativa é de uma expansão econômica sustentada (6% neste ano ante 6,9% no ano passado, e 7% em 2024) impulsionada pela forte demanda interna. O Banco Central da India poderá começar a reduzir os juros no começo de 2024, dependendo da baixa da inflação, e isso poderá ampliar o apetite por investimentos.
Uma demanda regional robusta ajudará as economias emergentes da Asia a ‘fazer face aos ventos contrários vindos do exterior’. Essas economias, que tinham crescido 4,4% em média em 2022, poderão expandir 5,3% neste ano e 5,5% no ano que vem. Tudo isso apesar da contração de 10% no crescimento anual das exportações no segundo trimestre por causa da desaceleração da demanda global. Uma classe média em expansão contribuirá para o crescimento sustentado na Ásia emergente.
O relatório elaborado pelo Departamento de Desenvolvimento da OCDE é publicado num momento em que a China é confrontada a dificuldades econômicas em várias frentes. O país entrou em território deflacionista em julho, registra baixa de 34% de vendas no setor imobiliário, grandes construtoras à beira da falência e risco de contaminar o setor financeiro, e exportações em recuo de 14,5% em julho.
Um clima de incerteza se propaga de novo, mas a verdade é que os problemas que a China enfrenta se distinguem fortemente das crises financeira asiática de 1997/98 e da crise financeira mundial provocada pelo setor imobiliário dos Estados Unidos em 2008. O que há de comum entre as três crises é que coincidem com um período no qual o Federal Reserve, o banco central dos EUA, endureceu sua política monetária.
No entanto, a crise imobiliária chinesa é diferente, como destacam diferentes analistas. Primeiro, o setor financeiro chinês é bastante isolado; o risco de um contágio internacional é bem menor do que em 1998 e 2008. Segundo, o mercado hipotecário é integralmente um mercado interno, com pouquíssima participação de investidores estrangeiros. Além disso, os bancos chineses estão sob controle do Estado, que está em boa posição para frear um desmoronamento do setor financeiro.
Paul Krugman, premio Nobel da Economia de 2008, é um dos que acham que uma crise na China, do estilo daquela de 2008, não transbordará para o resto do mundo. Ou seja, em termos econômicos, a situação na China está mais para crise interna do que para evento global como ocorreu na crise financeira global de 2008.
O relatório da OCDE publicado hoje vai nessa direção. Constata que, com o recente ‘default’ no pagamento de títulos de dívida de outra grande empresa imobiliária, os problemas de endividamento do setor imobiliário estão gradualmente vindos à tona na segunda maior economia do mundo. Mas ressalva: ‘Embora esses eventos de crédito possam implicar maior aversão ao risco e, portanto, condições de financiamento mais restritas para as empresas imobiliárias em geral, eles não constituem um risco sistêmico, pois as regulamentações que regem o financiamento hipotecário são rigorosas’.
Além disso, segundo o relatório, a renegociação e a reestruturação da dívida parecem ser formas viáveis de resolver os problemas da dívida. Da mesma forma, a recente inadimplência de uma empresa fiduciária ‘não representa uma ameaça à estabilidade financeira, pois as regras de gestão de ativos se tornaram mais rigorosas desde 2018’.
Lembra que foi criado um ‘Trust Protection Fund’ para comprar ativos de risco em 2021 e a exposição das finanças ao setor imobiliário ‘caiu significativamente’.
A OCDE nota também que, em meio a uma dinâmica mais fraca do que o esperado, a China implementou políticas para estimular o crescimento em junho. O banco central reduziu as taxas de curto e médio prazo. Espera-se que as taxas de juros mais baixas aliviem a carga de endividamento das famílias e, juntamente com medidas de flexibilização do lado da demanda (por exemplo, relaxamento de algumas restrições à compra e revenda de imóveis ou redução dos pagamentos de entrada), poderiam facilitar as vendas de imóveis e os investimentos.
A expectativa também é de continuação de grandes projetos de infraestrutura em 2023, já que os recursos dos títulos emitidos não foram usados em 2022. Medidas de isenção e redução de impostos foram anunciadas para pequenas e microempresas. Constata que os altos preços globais de energia e alimentos não repercutiram na economia chinesa.
Para a OCDE, as tendências deflacionárias que surgiram na economia chinesa ‘ainda não são motivo de preocupação’.
No geral, a entidade sediada em Paris avalia que os mercados financeiros da Asia emergentes poderiam se mostrar vulneráveis à volatilidade dos mercados mundiais e à orientação da política monetária nas economias desenvolvidas.