Assis Moreira
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Assis Moreira, Valor — Genebra

O presidente Emmanuel Macron fez um anúncio surpreendente em discurso anual aos embaixadores franceses, ontem, em Paris: a França quer aderir ao tratado de cooperação que reúne os oito países amazônicos.

‘Declaro solenemente que a França é candidata a participar da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e a desempenhar um papel pleno nela, com uma representação associando estreitamente a Guiana Francesa’’, anunciou Macron.

‘Isso é muito importante, e devemos desempenhar nosso papel diplomático por meio de nossos territórios ultramarinos. Portanto, eu realmente espero que o Brasil e todas as outras potências da região aceitem nossa candidatura e nos permitam participar desse formato’, acrescentou.

Para Macron, a França poderia aderir justamente em razão de a Guiana Francesa ter território amazônico e, na sua visão, a França assim é também amazônica.

Em 2019, quando presidiu o G7, grupo das principais nações industrializadas, Marcon afirmou durante um pronunciamento que ‘“a Amazônia é nosso bem comum. Estamos todos envolvidos, e a França está provavelmente mais do que outros que estarão nessa mesa [do G7], porque nós somos amazonenses. A Guiana Francesa está na Amazônia”.

Ao mencionar a Amazônia como bem público comum, fontes dizem que Macron não se refere ao território amazônico, mas ao que a floresta fornece em termos de umidade, rios voadores, biodiversidade, com efeito transfronteiriço. Porém, como às vezes se expressa mal, e o que diz não vem com nuances, nacionalismos primários interpretam sua fala como risco de ‘internacionalização’ da Amazonia.

Presidente Emmanuel Macron — Foto: Markus Schreiber/AP
Presidente Emmanuel Macron — Foto: Markus Schreiber/AP

Mas o que a França quer agora não é uma questão diplomaticamente fácil de ser resolvida.

É que, em princípio, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica não é aberta a adesões, porque considera que seus oito membros já cobrem o território da floresta – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, República d Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

A OTCA é o único bloco socioambiental da América Latina e diz ter 'uma ampla visão do processo de Cooperação Sul-Sul, trabalha em diferentes dimensões, no âmbito da implementação do Tratado de Cooperação da Amazônia (TCA)'.

Em janeiro deste ano, de volta ao poder, o presidente Lula chegou a convidar Macron para participar da Cúpula da Amazônia, em Belém, reunindo os líderes dos países da OCTA. Macron não veio.

A ausência do presidente francês foi criticada por parte da imprensa em Paris. O jornal ‘Libération’ falou de ‘desprezo’ dele em relação à iniciativa dos países amazônicos.

O próprio Lula deu uma alfinetada na ausência de Macron. O presidente disse, numa entrevista, que a presença do francês teria sido importante para evitar que ele fique falando da Amazônia lá da Europa. "Venha conhecer a Amazônia. Venha ver como é o povo ribeirinho, como vivem os nossos indígenas“, disse Lula.

No seu discurso de ontem, Macron disse que gostaria de ter ido à Cúpula em Belém ‘para ser o único chefe de Estado europeu, ao lado de embaixadores europeus, para explicar como financiamos a Amazônia’. Deu sua resposta e jogou a bola para o lado da OTCA.

Com o anúncio para aderir à OTCA, o mais provável é que o tema faça agora parte da agenda da reunião de chanceleres dos países membros, marcada para novembro em Brasília.

No passado, chegou-se a cogitar um convite para a França ser observadora na OCTA. Mas alguns países se opuseram à iniciativa. As relações com a Venezuela estão menos ruins, mas ainda assim o regime de Nicolas Maduro pode ser um dos obstáculos aos franceses. Há quem ache também que a França, através da Guiana Francesa, é tão responsável pela Amazônia quanto os demais países da região e deveria realmente colocar mais recursos na sua proteção.

Em seu discurso de ontem, Macron relatou que seu governo prepara para a Cúpula do Clima da ONU (COP 28), também a ser realizada em Belém, em 2025, ideias sobre desenvolvimento de créditos de biodiversidade e um mercado de carbono que funcione melhor.

‘Estabelecemos parcerias de conservação que começamos a implantar no Gabão e em Papua Nova Guiné no verão passado, mobilizando financiamento público e privado para preservar essas áreas em conjunto com os povos indígenas’, disse. ‘E continuaremos a fazer isso, como também queremos fazer na Amazônia, por meio de nosso próprio território, mas também por meio de nossos principais parceiros, em especial o Brasil’.

Sem citar o Mercosul, ele reiterou também que a França continuará a se ‘opor aos acordos comerciais que permitiriam a importação para a Europa de produtos que não atendem aos nossos padrões de saúde, clima, carbono ou biodiversidade. E é isso que nos torna uma força tão poderosa nessas questões. Gostaria de lembrar que foi por termos sido os primeiros a pressionar pela proibição do desmatamento importado que pressionamos muitas potências a evitar essas práticas’.

Mais recente Próxima Após expansão do Brics, Brasil tentará reativar o IBAS

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Ministro afirmou que são dezenas de toneladas de roupas, cobertores e outras mercadorias apreendidas

Mercadorias apreendidas pela Receita serão doadas ao RS, anuncia Haddad

Com a prorrogação do decreto da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o emprego das Forças Armadas permanece nesses locais até 4 de junho

Lula prorroga GLO por mais 30 dias nos portos e aeroportos do Rio e São Paulo

Justiça entende que houve irregularidades no processo e diz que projeto de lei não foi objeto de todas as “audiências públicas necessárias” nem de todos “os estudos e laudos pertinentes”

Decisão liminar suspende votação da Câmara de SP sobre a privatização da Sabesp

As medidas envolvem a antecipação de emendas parlamentares e uma reunião de emergência para pensar em medidas de prevenção e combate a desastres

Senadores articulam ações após temporais e desastre no RS

EUA criam menos vagas do que o esperado em abril e investidores veem cortes de juros pelo Fed mais próximos; nesse contexto, mercado volta a ampliar apostas em torno de corte de 0,5 ponto da Selic pelo Copom na próxima quarta-feira

Dólar fecha forte queda e Ibovespa avança após surpresa com 'payroll'

A taxa do DI para janeiro de 2025 passou de 10,20% do ajuste anterior para 10,17% e a do DI para janeiro de 2029 regrediu de 11,28% para 11,16%

Juros futuros fecham em queda após 'payroll' abaixo do consenso nos EUA

"Esta não é a primeira enchente, mas talvez a maior desde 1941", afirmou o prefeito da cidade de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB)

Veja como as chuvas afetaram a cidade de Porto Alegre

A modelagem tecnológica de um sistema que permita isso está sendo discutida em conjunto ao Banco Central, diz Loria

Somente operações em dinheiro ou cheque estarão fora do split payment, diz Loria

Aumento inesperado no desemprego dos EUA coloca recuperação das criptomoedas no radar da próxima semana

Bitcoin dispara a US$ 62 mil, mas tem queda acumulada de 1,6% em 7 dias