O número de micros e pequenas indústrias que fizeram consultas para obter empréstimos e financiamento aumentou de 11% para 17% entre o bimestre de fevereiro e março e abril e maio, segundo dados da 7ª rodada da pesquisa Simpi/Datafolha, que mede a atividade e as expectativas do setor. Contudo, 46% dessas empresas tiveram os seus pedidos rejeitados.
Na avaliação do presidente do Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo), Joseph Couri, há uma série de elementos que contribuíram para que o acesso ao crédito dessas empresas tenha ficado restrito. Um deles é a onda de pedidos de recuperação judicial de grandes empresas, com destaque para a Americanas, o que desencadeou problemas para toda a cadeia produtiva. A inadimplência crescente, tanto de consumidores quanto de empresas, é outro fator. “Mas a causa raiz é o fato da Selic ter galopado de 2% para 13,75% em curto espaço de tempo”, afirma.
Para Couri, a manutenção da Selic em 13,75% está matando a capacidade das micros e pequenas indústrias manterem plenamente as operações.
“O mote principal deste cenário difícil é indiscutivelmente a taxa de juros. Porque quando se toma o empréstimo do dinheiro, não é nem 13,75%. Isso é só o valor referencial da Selic. Na prática, qualquer financiamento está começando em 20%, 30%. Se cair num cartão de crédito é mais de 400%”, comenta.
A queixa do presidente do Simpi é amparada pela pesquisa feita pelo Datafolha. Os dados mostram que 39% dos entrevistados apontam o patamar da taxa de juros como o principal obstáculo para conseguirem empréstimos, pois nas condições que a grande maioria se encontra já não conseguiria pagar pelo financiamento. A segunda maior queixa é que faltam linhas de crédito adequadas para o porte das micros e pequenas indústrias.
Pronampe
Couri comenta, por exemplo, que, em junho, somente 3% das empresas conseguiram acessar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que foi justamente o recurso mais buscado entre as empresas do setor que representa.
A pesquisa aponta ainda que a terceira causa mais apontada para a dificuldade em acessar crédito em abril e maio é a restrição por causa de outras dívidas e a quarta se deve às garantias exigidas pelos bancos e instituições financeiras para conceder o empréstimo. Isso se comunica com o fato de 47% das empresas consultadas terem assumido que não possuem capital de giro suficiente para fechar o mês.
“Somente 8% das empresas [das micros e pequenas indústria do Brasil] estão em posição confortável hoje. Do restante, 47% estão com capital de giro insuficiente e 45% já estão penduradas em bancos. Portanto, para 8% a escalada da taxa de juros não foi mortal, mas para 92% está sendo”, declara Couri.
Diante da perspectiva de que a taxa Selic comece a ser reduzida pelo Banco Central a partir de agosto, o presidente do Simpi afirma que pode ser a reversão de um ciclo que se provou prejudicial para a indústria, mas diz que o ritmo de cortes previsto está longe do que considera ser o ideal.
Para ele, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 3% no acumulado de 12 meses até julho, o ideal para a micro e pequena indústria seria que a Selic não demorasse muito para cair até 6%, cenário improvável já que, segundo apontam as expectativas do mercado no Boletim Focus, do Banco Central, a perspectiva majoritária é a de que a Selic feche o ano em 12% e caia para 9,50% em 2024. Mesmo em 2025 a aposta é que caia somente até 9%.
“O plano do governo [federal] para colocar os consumidores negativados novamente no mercado interno, o Desenrola, lança medidas para aliviar o que foi causado pelo Banco Central, mas tampouco resolvem o problema de vez. Só joga mais para frente”, conclui Couri.