O Senado deu aval nesta terça-feira às indicações de Gabriel Galípolo e de Ailton Aquino para a diretoria colegiada do Banco Central (BC) — eles foram sabatinados e aprovados na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e depois no plenário. Em meio à pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e representantes do setor produtivo por juros mais baixos, essas serão as primeiras nomeações do governo para o Comitê de Política Monetária (Copom), que decide os rumos da taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Em plenário, Galípolo, indicado para a Diretoria de Política Monetária, recebeu 39 votos a favor e 12 contra. Aquino, indicado para a Diretoria de Fiscalização, recebeu 42 votos a favor e 10 contra. Durante a sabatina na CAE, ambos defenderam uma simplificação da comunicação do BC, que tem sofrido críticas por ser muito complexa e direcionada ao mercado financeiro. “A linguagem do Banco Central é muito difícil e nós precisamos fazer um trabalho para melhorar isso. A comunicação do BC precisa melhorar”, disse Aquino.
“Realmente existe ali uma linguagem própria, cada vez que sai uma ata do Copom, na Faria Lima se inicia um campeonato mundial da interpretação de texto, o que cada vírgula quer dizer, o que cada palavra quer dizer”, complementou Galípolo, que deixou recentemente a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda.
Sobre os próximos passos da política monetária, o economista frisou que o mercado já projeta corte de juros na curva futura e defendeu que é o país precisa crescer mais para equalizar a relação entre a dívida e o PIB. “O crescimento do Brasil não depende só de questão externa, como bem colocou o presidente do Banco Central, Roberto Campos [Neto], se a gente continuar com premissas de um crescimento potencial de 1,5% ou 1,6% e uma taxa de juro neutra de 4,5%, por mais sofisticado que sejam os modelos e os economistas que tratam dos modelos, a relação dívida/PIB não vai apresentar um bom comportamento”, disse Galípolo.
“Como também disse o presidente Roberto Campos, a única solução é crescer e para crescer é preciso seguir a agenda econômica (...). Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser o destino da econômico do país à revelia da vontade democrática e de seus representantes eleitos”, continuou.
Ao responder sobre autonomia do BC, ele afirmou que “não cabe aos diretores opinar”. “Muitas vezes, se entende a autonomia do BC como se fosse uma autonomia do processo democrático (...). É óbvio que é o poder eleito pelas urnas que define o destino econômico do nosso país.”
Com a lei de autonomia do BC, sancionada em 2021, os diretores e o presidente da autarquia passaram a ter mandatos fixos e intercalados de quatro anos, com direito a uma recondução. Dessa forma, o governo vai poder indicar outros dois diretores em dezembro deste ano. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, que foi indicado por Jair Bolsonaro (PL), fica à frente da autoridade monetária até dezembro de 2024.
Galípolo, que era o número dois do Ministério da Fazenda, é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi presidente do Banco Fator e professor universitário. A expectativa é que ele ocupe a presidência da autoridade monetária a partir de 2025, após o fim do mandato de Campos.
Aquino, por sua vez, é servidor de carreira. Ele será o primeiro negro a ocupar um cargo na diretoria do BC. Atualmente, ele é chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira do BC. É formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia e em Direito pelo UDF Centro Universitário.
Aquino tem MBA em contabilidade internacional pela Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças e especialização em engenharia econômica de negócios pela Fundação Visconde de Cairu. Além disso, é pós-graduado em direito público pelas Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central. No BC, foi auditor-chefe.