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S&P Global melhora perspectiva do Brasil de 'estável' para 'positiva'

Agência mantém, contudo, nota de classificação de risco para o país em B

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São Paulo

A agência de classificação de risco S&P Global Ratings melhorou nesta quarta (14) a perspectiva de longo prazo do Brasil de "estável" para "positiva", mas manteve a nota de crédito soberano de longo e curto prazo, atualmente em B na moeda local.

A última vez que a S&P Global mudou a perspectiva de longo prazo para o Brasil para positiva foi em dezembro de 2019. Desde abril de 2020 a perspectiva do país era estável.

A mudança desta vez reflete, segundo a agência, a possibilidade de maior crescimento econômico do país, somada aos sinais de maior certeza de estabilidade na condução da política fiscal e monetária, o que poderá levar a uma redução da taxa básica de juros, a Selic.

O ministro da Fazenda Fernando Haddad, acompanhado do secretário executivo da pasta, Gabriel Galípolo, em audiência pública conjunta das Comissões de Desenvolvimento Econômico, Finanças e Fiscalização da Câmara dos Deputados. - Pedro Ladeira/Folhapress

"O crescimento contínuo do PIB [Produto Interno Bruto] somado ao quadro emergente para a política fiscal pode resultar em uma carga de dívida pública menor do que o esperado, o que pode apoiar a flexibilidade monetária e sustentar a posição externa líquida do país", diz o relatório.

A Bolsa de Valores brasileira reagiu à divulgação aprofundando os ganhos. Antes do anúncio da revisão, o índice Ibovespa estava em torno dos 118 mil pontos. Depois, ultrapassou os 119 mil pontos pela primeira vez neste ano, atingindo o nível mais alto desde outubro de 2022 e fechando o dia em alta de 2%.

O dólar também refletiu o otimismo da agência e caiu mais, encerrando o dia em queda de quase 1%, a R$ 4,81 —renovando novamente seu menor patamar no ano. Ao longo do dia, a moeda caía cerca de 0,40% em resposta à pausa na elevação dos juros pelo Fed (o Federal Reserve, o banco central americano).

Os mercados de juros futuros tiveram queda significativa e também deram fôlego para a Bolsa nesta quarta. Os contatos com vencimento em janeiro de 2024 foram de 13,06% para 13,01%, enquanto os para 2025 caíram de 11,17% para 11,07%.

No longo prazo, a queda foi ainda maior: os juros para 2026 saíram de 10,58% para 10,46%, e os para 2027 foram de 10,66% para 10,53%.

O dólar e a Bolsa já vinham sendo impactados pela melhora nas expectativas sobre a economia brasileira nas últimas semanas, especialmente sobre o PIB e a inflação do país, que surpreenderam positivamente o mercado.

A S&P Global Ratings é uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, e suas notas de crédito consistem em avaliações da probabilidade de um emissor de títulos honrar com suas obrigações financeiras. Por isso, investidores internacionais ficam de olho nas notas dadas por essas agências na hora de escolher onde aportar seus recursos.

Se o investidor acredita que, mesmo com uma nota menor, vale a pena apostar nos títulos do país, ele então cobra um prêmio maior, adequado ao risco oferecido pelo emissor. Vale ressaltar que essas notas não são medidas absolutas, mas apenas uma ferramenta utilizada no processo de tomada de decisões de investimentos.

A agência destacou que acredita em um equilíbrio de poder entre governo, Congresso e instituições públicas suficiente para impedir a reversão de reformas implementadas desde 2016, que, na visão da S&P, sustentaram o crescimento econômico do país maior do que o esperado nos últimos dois anos.

"Essas reformas incluem a independência do Banco Central, mudanças no sistema previdenciário, revisão do código trabalhista, governança mais forte das entidades relacionadas ao governo e a existência de uma regra fiscal", apontou a agência.

A S&P disse acreditar no pragmatismo do governo atual, mas afirmou que pode fazer uma nova revisão de perspectiva para baixo caso haja uma estrutura política inadequada ou caso a política econômica resulte em um crescimento limitado do país "levando a uma maior deterioração fiscal e a um ônus da dívida maior do que o esperado".

Nesse sentido, a aprovação do novo arcabouço fiscal vai ajudar a limitar a deterioração das contas públicas brasileiras, segundo a agência. Na visão dos analistas da S&P, ainda que seja mais flexível que o teto de gastos, o novo marco fiscal deverá conter vários gatilhos que permitiram a melhora observada nos últimos dois anos.

Já o que pode elevar a nota de crédito do Brasil, segundo a agência, é a capacidade do governo brasileiro de adotar medidas econômicas pragmáticas que consigam conter "vulnerabilidades nas finanças públicas do país". "A chave para isso seria a aprovação de reformas adicionais —entre elas uma reforma tributária atualmente em debate", disse.

A nota atual do Brasil (B) indica que o país é mais vulnerável a condições adversas de negócios, financeiras e econômicas, mas ainda assim tem capacidade de cumprir com seus compromissos de dívida.

"Em nossa opinião, a falta de capacidade para lidar rapidamente com as deficiências econômicas impede o Brasil de crescer em um ritmo mais rápido e consistente com outros mercados soberanos emergentes em um nível semelhante de desenvolvimento", justifica a S&P.

"Também limita a capacidade do Brasil de lidar com uma estrutura orçamentária rígida, que contribui para grandes déficits fiscais e uma elevada carga de dívida", completa a agência.

Acima da nota B, ainda considerada de grau especulativo, há BB (também especulativo) e BBB, quando já é considerado grau de investimento. O Brasil está, portanto, a dois degraus de obter grau de investimento.

Após a divulgação da revisão, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse que a perspectiva favorável à classificação de risco do Brasil dada pela agência contribui para evitar retrocessos na agenda do governo e previu que o país poderá recuperar o grau de investimento em 2026, ou seja, elevar a nota para um patamar entre BBB e AAA.

"Dá, não é impossível, a gente está tendo apoio do Congresso, da sociedade", disse Ceron à Reuters.

Revisão impulsiona ganhos do setor bancário na Bolsa

Altas do setor bancário, aceleradas pelo anúncio da S&P, deram fôlego à Bolsa brasileira. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil subiram 0,97%, 0,29% e 0,41%, respectivamente.

O Santander, porém, fechou em forte queda de 1,95%, impactado pelo julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou constitucional a cobrança de PIS/Cofins sobre receitas com intermediação financeira. O banco disse que possui ações na Justiça no valor estimado de R$ 4,5 bilhões e vai recorrer da decisão.

A alta no Ibovespa nesta quarta, no entanto, foi apoiada principalmente pela Petrobras, que registrou fortes ganhos de 4,02% em suas ações ordinárias e de 4,05% nas preferenciais.

A companhia foi na contramão do preço do petróleo no exterior —o barril do tipo Brent caiu 1,01%— em meio a especulações sobre uma possível venda da fatia da Novonor na petroquímica Braskem, que tem a Petrobras como uma das principais acionistas.

A Vale também impulsionou o Ibovespa e subiu 1,73% nesta quarta, fechando como a ação mais negociada do pregão em meio à alta do minério de ferro no exterior.

Após um dia de perdas na terça, empresas menores e mais ligadas à economia doméstica da Bolsa brasileira, as chamadas "small caps", também subiram. O índice que mede o desempenho desse segmento teve alta de 2,71%, performance melhor que a do Ibovespa.

As principais altas do dia foram da Gol (11,40%) e da Azul (8,66%), favorecidas por reforços de recomendação de compra divulgados nesta quarta, e Yduqs (9,98%), que vem registrando sucessivas altas com a melhora das perspectivas econômicas do país.

"O cenário para o Brasil é bem positivo, e com o Fed mantendo a taxa de juros nesse patamar, fica ainda mais favorável. Os estrangeiros seguem investindo no país, até porque também temos uma taxa de juros alta e uma Bolsa barata. O Brasil pulou na frente e tem atraído muito capital estrangeiro", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Com Reuters

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