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Por Maria Luíza Filgueiras — São Paulo


O mercado de precatórios anda mais retraído, mas a gestora Radix tem encontrado oportunidades para aumentar seus cheques. Especializada em ativos judiciais, a firma paulista fechou a compra de R$ 400 milhões em precatórios da Copersucar. O montante, referente ao valor de face, foi comprado de bondholders que ficaram com os créditos na recuperação judicial de uma das usinas do grupo.

A Radix entrou diretamente com o correspondente a R$ 80 milhões em precatórios (a gestora não abre o deságio na compra) e trouxe o restante para co-investidores estrangeiros, que já são seus usuais cotistas – a gestão de todo o ativo fica com a firma.

“É um volume relevante, considerando que o ativo médio dos nossos fundos é de R$ 200 mil, então precisávamos equilibrar isso na carteira”, diz Pedro Campos, sócio da Radix. “Essa transação é emblemática para esse novo patamar da companhia, acessando ativos maiores com co-investidores”, emenda André Walter de Oliveira, também sócio da gestora.

A dinâmica da companhia entre os grandes e pequenos créditos se reflete até em seu endereço, brincam os sócios. A Radix fica no Largo da Batata, em São Paulo – um circuito mais popular, relevante para estar perto da originação de precatórios menores, mas a poucos metros da Faria Lima, para estar próxima dos grandes.

A Radix gere atualmente 11 FIDCs, alimentados por cinco fundos feeder, que somam R$ 1 bilhão sob gestão – capital principalmente de family offices, institucionais estrangeiros e indivíduos de alta renda. A gestora estima fechar o ano em R$ 1,5 bilhão de AUM.

Os fundos miram retornos líquidos entre 20% e 25% ao ano para o investidor. O primeiro fundo da casa começou a dar retorno do capital agora e, segundo os sócios, atingiu o patamar esperado. “Nosso downside potencial é pagar Selic, já que o ativo é corrigido pela taxa, o que é relevante num cenário como o atual, com fundos de crédito, por exemplo, sofrendo impactos de Americanas, Light e outros”, compara Oliveira.

Nos últimos dois anos, no entanto, o mercado de precatórios também deu uma chacoalhada. Os ativos, que vinham atraindo mais investidores diante da taxa de juros baixa que obrigava a diversificar a carteira por retorno, voltaram a ser vistos como risco alto, devido a mudanças de regras.

Chuva de açúcar: abastecimento armazém da cooperativa para transporte marítimo no Porto de Santos  — Foto: Valor/Julio Bittencourt
Chuva de açúcar: abastecimento armazém da cooperativa para transporte marítimo no Porto de Santos — Foto: Valor/Julio Bittencourt

“O mercado mudou muito desde julho de 2021, quando Paulo Guedes anunciou a chuva de meteoros”, diz Campos. O então ministro da Fazenda revisou as normas para pagamento dos ativos judiciais, criando filas de pagamento. A proposta inicial era a quitação de dívidas menores, jogando para depois de 2027 os tíquetes mais elevados.

“O regime de pagamento ficou esquizofrênico. Esse é o segundo ano de aplicação da regra, mas não se sabe a velocidade das quitações e criou-se o conceito da fila de não pagos, que incluem pequenos tíquetes. É uma incerteza que precisa ser colocada no preço”, diz o sócio. “Hoje temos um cenário inédito, que são safras simultâneas a pagar, como precatórios federais de 2022 e 2023, ativos comum e alimentar de 2024 e 2025, e cada um tem um valor.”

O estoque de precatórios no país para ser pago este ano é de pouco mais de R$ 140 bilhões, segundo o Tesouro Nacional.

Mais recentemente, a AGU revogou o decreto que permitia o uso de precatórios em pagamentos ao governo, abrindo nova consulta pública sobre o tema. Aena e XP, por exemplo, que arremataram concessões de aeroportos, pretendiam pagar outorgas com precatórios, mas diante da mudança de regras acabaram desembolsando caixa.

A possibilidade de uso em pagamento criou uma expectativa nos donos de precatórios sobre o valor do ativo, dizem os gestores, dificultando uma transação secundária por falta de consenso de preço. Ainda assim, calibrada com tecnologia que ajuda a filtrar os processos ativos (da equipe de 45 pessoas, 12 são programadores), a Radix tem conseguido aumentar o ritmo. A gestora compra em média 100 precatórios mensais e, no último mês, comprou 167.

Quem saiu do mercado, dizem os gestores, foram principalmente os fundos que vinham comprando precatórios como se fossem NTN-Bs. A Radix compra créditos federais e estaduais em São Paulo, onde a fila de pagamentos estabelecida já dá mais clareza ao mercado. “Nosso desafio é avaliar a oportunidade de precatórios municipais, não só por preço mas por escala”, diz Oliveira.

Os dois sócios da Radix se formaram juntos em engenharia na Poli e seguiram carreiras paralelas – entre bancos de investimento e gestoras de recursos, Oliveira fundou e vendeu a plataforma de ativos não performados Apoema para a Lone Star, e Campos tinha acabado de deixar a Jus Capital, uma das firmas pioneiras no investimento em precatórios no país. Com o histórico, resolveram apostar na plataforma de ativos judiciais, fundada em 2018.

A Radix, hoje com 10 sócios no total, já garantiu capital para continuar comprando. Um grupo de investidores âncora assegurou R$ 400 milhões para novas aquisições de ativos, por meio de quatro veículos exclusivos desses investidores institucionais, e a firma vai levantar R$ 250 milhões em um veículo voltado a family&friends.

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