Chefe de gabinete de Zelenski liga para Amorim em gesto de aproximação com Brasília

Ucrânia quer participação do Brasil em cúpula de paz; relação entre países, porém, está desgastada por desencontros

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Brasília

Em um gesto de reaproximação, Andrii Iermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, telefonou nesta terça-feira (13) para Celso Amorim, assessor especial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para política externa.

Na conversa —uma demanda dos ucranianos—, Iermak abordou planos para a realização de uma cúpula internacional da paz e falou da importância da participação do Brasil. A cúpula se realizaria em local "de fácil acesso" e seria parte de um processo de negociação.

O diálogo entre Amorim e Iermak compõe a iniciativa de Kiev para conseguir adesão de países do Sul Global para a cúpula de paz que está sendo planejada para debater saídas para a Guerra da Ucrânia. Também nesta terça, o chefe de gabinete ucraniano conversou com Ajit Kumar Doval, conselheiro de segurança nacional da Índia.

O assessor especial para política externa do presidente Lula, Celso Amorim, durante reunião no Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, em Kiev
O assessor especial para política externa do presidente Lula, Celso Amorim, durante visita à Ucrânia, em maio - Divulgação Governo da Ucrânia - 11.mai.23

De acordo com o governo brasileiro, o telefonema de Iermak a Amorim foi "muito positivo" e ajuda a distensionar a relação entre Brasil e Ucrânia, prejudicada por declarações de Lula vistas como inclinadas ao lado de Vladimir Putin.

Após o desencontro entre os presidentes Lula e Zelenski na cúpula do G7, no Japão, em 21 de maio, não tinha havido contato entre o alto escalão do governo brasileiro e a equipe do presidente ucraniano. Em Hiroshima, o Itamaraty disse ter oferecido três horários para Zelenski, que, ao fim, não foi ao encontro.

À Folha o líder ucraniano se eximiu da culpa pelo fiasco, mas tampouco explicou o que ocorreu. Ele também deu alfinetadas nas propostas de Lula para mediar a paz ao se referir, com ironia, às tentativas do brasileiro de ser "original" em seus planos.

Na semana passada, porém, os ucranianos pediram uma conversa com Amorim, consumada nesta terça —um movimento que, segundo Kiev, expressa o desejo de se reaproximar do Brasil.

O país é visto como instrumental para influenciar a América Latina. A Ucrânia precisa do apoio do chamado Sul Global —por enquanto, só potências ocidentais têm enviado armas, imposto sanções à Rússia e declarado apoio explícito a Kiev. Na América Latina, apenas Chile, Uruguai, Costa Rica e Guatemala se posicionaram abertamente a favor do país ora invadido.

Na conversa com o indiano, Iermak falou sobre os preparativos para a cúpula da paz e a possibilidade de a Índia ajudar na implementação de alguns pontos do plano de paz proposto por Zelenski, segundo o governo ucraniano.

A Índia tem evitado condenar a Rússia de forma mais assertiva —absteve-se, por exemplo, na votação de uma resolução da ONU que, com apoio do Brasil, condenou as consequências da invasão e pediu a retirada de tropas russas da Ucrânia. Além disso, o governo indiano aumentou as importações de petróleo de Moscou, ajudando na viabilidade financeira do regime de Putin, alvo de sanções econômicas do Ocidente, às quais o Brasil se opõe.

No fim desta semana, uma delegação de sete presidentes de países africanos, liderada pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, vai visitar Kiev e, em seguida, Moscou. O grupo propôs um dos planos para o fim do conflito —projetos que, até agora, não tiveram avanços concretos.

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