O Banco do Brasil (BB) registrou lucro líquido ajustado de R$ 8,550 bilhões no primeiro trimestre, o que representa queda de 5,4% frente ao quarto trimestre e alta de 28,9% em relação a igual período de 2022. O resultado ficou acima da projeção dos analistas ouvidos pelo Valor, de R$ 8,367 bilhões. A margem financeira do banco tem se recuperado e a inadimplência continua bem controlada, assim como as despesas administrativas.
A carteira de crédito do BB cresceu mais que a dos concorrentes privados nos 12 meses encerrados em março. O saldo de operações atingiu R$ 1,032 trilhão, com alta de 2,7% em relação a dezembro e de 16,8% frente a março do ano passado. Esse ritmo mais forte se viu sobretudo no agro, segmento em que o estoque chegou a R$ 323 bilhões, com expansões de 4,2% e 26,7%, respectivamente. “O BB permanece líder de desembolso no plano safra 2022/2023, com um crescimento de 30% em relação à safra anterior, atingindo R$ 148,4 bilhões”, disse a instituição.
Nas demais operações, o desempenho foi mais parecido com o dos pares. A carteira de pessoa física alcançou R$ 300 bilhões, com alta de 3,4% no trimestre e de 11,5% em 12 meses. Em pessoas jurídicas, somou R$ 362 bilhões, avanços de 0,8% e 12,8%, em igual base de comparação.
De acordo com a instituição, o resultado se traduz pelo crescimento “responsável” da carteira de crédito, com desempenho em todos os segmentos, pela inadimplência sob controle e pelo foco na diversificação de receitas e controle de custos. O banco também creditou o resultado à estratégia de ter “o cliente no centro”, com relacionamento de longo prazo, e à ampliação do uso de inteligência artificial e de ferramentas de “big data” e análise de dados.
A margem financeira bruta somou R$ 21,161 bilhões no primeiro trimestre, com queda de 1,4% na comparação com o quarto trimestre e alta de 38% em relação aos três primeiros meses do ano passado. A receita financeira com operações de crédito teve alta trimestral de 4,6% e anual de 35,1%, a R$ 32,304 bilhões. O resultado de tesouraria totalizou R$ 10,086 bilhões, com baixa de 7,8% no trimestre e alta de 72,1% no ano.
As provisões para crédito de liquidação duvidosa (PDD) ampliada, compostas pela despesa de PDD líquida da recuperação de crédito, descontos concedidos e baixa contábil no valor de ativos financeiros, tiveram queda de 10,4% frente ao quarto trimestre, totalizando R$ 5,855 bilhões. Na comparação anual, houve aumento de 112,3%.
Segundo o banco, mudanças societárias no controle acionário de um cliente específico do segmento de grandes empresas — do setor agroindustrial, que teve processo de recuperação judicial homologado em 2019 — levaram a uma alteração no perfil de dívida da companhia e tiveram impacto nas despesas com provisões. “Houve a liquidação de operação de crédito bancário, concomitante à emissão de debêntures com reconhecimento imediato de perda por imparidade em 100% do valor de face do título emitido, com impacto neutro” no total das despesas com PDD, segundo o banco. O BB não revelou o nome do cliente, mas provavelmente se trata da Atvos.
O Banco do Brasil também viu a inadimplência aumentar no primeiro trimestre. O indicador fechou março em 2,62%, acima dos 2,51% de dezembro e do 1,89% de março do ano passado. Em pessoa física, a inadimplência caiu para 5,39%, de 5,44% no dim do ano, mas cresceu em relação aos 3,82% de ano antes. Em pessoa jurídica, o indicador avançou para 2,13%, de 1,83% e 1,23%. Em agro, ficou em 0,59%, de 0,52% e 0,60%.
O índice de Basileia atingiu 16,19%, sendo 12,01% de capital principal. O retorno sobre o patrimônio (mercado) ficou em 21,0%, de 23,0% no quarto trimestre e 18,2% no primeiro trimestre do ano passado.
As receitas de prestação de serviços somaram R$ 8,132 bilhões no primeiro trimestre de 2022, queda de 3,6% na comparação com o trimestre anterior e avanço de 8,1% em um ano. Segundo o BB, a queda nas receitas de prestação de serviços no trimestre foi impactada pela sazonalidade do período. Em um ano, a expansão foi influenciada principalmente pelo desempenho nas linhas de comissão de seguros, previdência e capitalização (+10,7%); rendas de cartões (+20,4%); e administração de fundos (+4,9%).
As despesas administrativas, por sua vez, alcançaram R$ 8,698 bilhões nos primeiros três meses de 2022, em queda de 2,5% ante o trimestre anterior e alta de 6,1% na comparação anual. O índice de eficiência (dado pela divisão das despesas pelas receitas) do BB caiu a 29,0%, melhor valor da série histórica, recuando dos 29,4% do trimestre anterior e dos 34,7% registrados no mesmo período do ano anterior.
Até agora, a expansão da carteira do BB (17,9%) está acima do intervalo projetado para este ano, de 8% a 12%. O crescimento da margem (38%) está muito acima da faixa estimada, de 17% a 21%. Receita de serviços e despesas estão dentro das projeções. Já a PDD, anualizando o número do primeiro trimestre (R$ 5,9 bilhões), ficaria pior do que a faixa indicativa — que vai de R$ 19 bilhões a R$ 23 bilhões.