Descrição de chapéu Folhajus

Juiz da Lava Jato envia à PF acusações de Tacla Duran contra Moro para abertura de inquérito

Ex-juiz e Deltan têm dito que advogado que atuou para a Odebrecht não possui credibilidade e é criminoso confesso

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Curitiba

O juiz federal Eduardo Appio, à frente dos casos remanescentes da Operação Lava Jato em Curitiba, encaminhou um ofício à Polícia Federal do Paraná nesta terça-feira (28) com as acusações feitas pelo réu Rodrigo Tacla Duran contra o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, hoje congressistas.

No documento, Appio afirma que o conteúdo está sendo encaminhado à PF para "instauração urgente de inquérito policial visando a apuração da prática, em tese, de crime de extorsão (alegadamente agentes políticos federais)". Moro e Deltan rechaçam as acusações.

Homem de terno e gravata sentado à frente de monitor de computador em escritório
O juiz federal Eduardo Appio, que assumiu a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato - Divulgação JF-PR

Os relatos foram feitos nesta segunda-feira (27) por Tacla Duran, em audiência marcada pelo juiz Appio dentro do processo no qual o advogado responde pelo crime de lavagem de dinheiro.

No ofício encaminhado ao delegado Rivaldo Venâncio, que recentemente assumiu a cadeira de superintendente regional da PF, Appio informa que está anexando uma cópia da ata da audiência.

Por volta das 18h, contudo, Venâncio responde a Appio, sugerindo que o assunto fique com o STF (Supremo Tribunal Federal), "considerando o teor do ofício". "Restituo respeitosamente a Vossa Excelência, com sugestão de análise de eventual encaminhamento ao STF", assina o delegado.

O próprio juiz Appio já havia informado durante a audiência que o assunto seria de competência do STF, devido ao foro especial dos citados por Tacla Duran –Moro é senador pelo União Brasil-PR; Deltan é deputado federal pelo Podemos-PR.

Foi com tal justificativa que Appio não pediu detalhes a Tacla Duran sobre o que ele tentava narrar –o advogado fala que houve perseguição de Deltan por não ter aceitado uma extorsão praticada por pessoas próximas a Moro. Declarações semelhantes já tinham sido feitas por Tacla Duran desde 2017 a jornalistas e no Congresso.

Ele acusa um amigo de Moro de pedir dinheiro para atuar em negociação de acordo de delação premiada.

A Folha tentou contato com Tacla Duran, mas não obteve resposta. Em despacho após a audiência de segunda, o juiz Appio afirmou que o réu seria encaminhado ao programa federal de proteção de testemunhas.

Em depoimento a autoridades espanholas em 2017, Tacla Duran afirmou ter emprestado contas bancárias de suas empresas fora do Brasil para movimentar recursos da empreiteira Odebrecht.

Na 13ª Vara Federal de Curitiba, a ação penal de Tacla Duran está suspensa por determinação do STF desde 14 de março. Mas a audiência acabou marcada pelo juiz Appio após sua decisão de revogar a prisão preventiva que tinha sido decretada contra o advogado quando Moro ainda era juiz.

Nascido no Brasil, com dupla cidadania por ser filho de espanhol, Tacla Duran vive na Espanha, que rejeitou pedido de extradição apresentado pelo Brasil.

Ao revogar a prisão preventiva, em 16 de março, Appio afirmou que as prisões cautelares são medidas excepcionais, que "não podem se eternizar" e criticou a atuação do MPF na época de Deltan.

"A sua eventual importância, em termos de estratégia da acusação feita pela então força-tarefa do MPF na Lava Jato, de modo algum tem a capacidade de reduzir a amplitude de sua proteção constitucional contra prisões arbitrárias ou desnecessárias", escreveu o magistrado, que é abertamente um crítico dos métodos da Lava Jato, quando Moro e Deltan estavam à frente dos casos.

Na segunda-feira, Deltan Dallagnol escreveu em rede social que a audiência de Tacla Duran foi uma cortina de fumaça autorizada por um "juiz lulista". "É constrangedor ver a militância comemorando o depoimento de hoje como uma 'vitória', sendo que não é nada mais que uma história falsa, requentada pela terceira vez sem novidade e que já foi investigada pelo MPF e PGR, que a descartaram totalmente. Isso revela desespero", disse o deputado.

Na mesma linha, Moro se manifestou por meio de nota. "Trata-se de uma pessoa que, após inicialmente negar, confessou depois lavar profissionalmente dinheiro para a Odebrecht e teve a prisão preventiva decretada na Lava Jato. Desde 2017 faz acusações falsas, sem qualquer prova, salvo as que ele mesmo fabricou. Tenta desde 2020 fazer delação premiada junto à Procuradoria-Geral da República, sem sucesso. Por ausência de provas, o procedimento na PGR foi arquivado", afirmou Moro.

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