O primeiro pregão de 2022 foi de pressão compradora para a moeda americana. De olho no viés trazido do exterior e também em preocupações domésticas, o dólar subiu 1,57%, negociado a R$ 5,6622.
Se no exterior o movimento mais amplo foi de fortalecimento do dólar e alta dos juros dos títulos do Tesouro americano (Treasuries), já na expectativa por uma agenda carregada de indicadores e eventos que podem influenciar a política monetária americana, por aqui o temor com a dinâmica fiscal brasileira e também com o cenário eleitoral contribuiu para fazer do real a divisa de pior desempenho do dia.
“Tivemos hoje um noticiário ruim para o cenário fiscal, o [líder do governo, deputado] Ricardo Barros (PP-PR) falando de mudar o teto de gastos”, nota o estrategista-chefe do Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, se referindo à entrevista dada ao Valor pelo parlamentar. “Acho que isso alimenta uma preocupação com a sustentabilidade da dívida pública. Além disso, pode estar ocorrendo algum ajuste após o último pregão do ano passado, em que vimos o real se fortalecendo mais de 2%.”
Na avaliação de Rostagno, outro ponto que tem suscitado cautela é a série de artigos, no jornal “Folha de S.Paulo”, com economistas expondo as ideias que os principais candidatos devem levar à disputa presidencial este ano. “Não sei até que ponto a escolha de (Guido) Mantega passou por Lula, mas isso trouxe alguma preocupação sobre qual será a política fiscal de um eventual governo petista”, pondera Rostagno. “Como Mantega esteve à frente da Fazenda quando houve piora estrutural das contas públicas, fica essa questão.”
Lá fora, o rendimento da T-note de dez anos voltou a operar perto da marca de 1,6% à medida em que investidores se preparam para agendas importantes ao longo da semana, como a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve, na quarta-feira, e dos dados do mercado de trabalho de dezembro, na sexta-feira.
"Acreditamos que a tendência de dólar forte deve permanecer intacta em 2022", afirmam estrategistas do Brown Brothers Harriman. "A performance da economia americana deve superar a de pares este ano, o que dará mais confiança ao Fed para normalizar sua política monetária. Em contraste, tanto o Banco Central Europeu (BCE) quanto o do Japão (BoJ) estão longe de elevar juros".
"O ambiente para as moedas emergentes deve permanecer desafiador até o momento da primeira alta do Fed. Já os juros podem se descolar do caminho traçado pelo BC americano, caso o dólar não se fortaleça muito, dado que alguns BCs emergentes já anteciparam boa parte do ciclo de aperto", dizem estrategistas do Citi.