O Ibovespa não resistiu às pressões vindas do exterior, onde os investidores adotaram uma postura mais cautelosa diante do rápido avanço da variante ômicron do novo coronavírus e das dificuldades de aprovação do pacote de infraestrutura do governo Joe Biden no Senado americano. Assim, o índice fechou o dia em queda forte e retornou ao patamar dos 105 mil pontos.
O Ibovespa fechou a sessão em desvalorização de 2,03%, aos 105.019,78 pontos, após ter marcado 104.358 pontos nas mínimas intradiárias, em baixa de 2,65%. Em um reflexo da menor liquidez observada com a proximidade das festas de fim de ano, o volume negociado foi de R$ 19,33 bilhões, nível bem abaixo da média diária anual de R$ 24 bilhões.
O rápido avanço da variante ômicron do novo coronavírus pelo mundo e a adoção de medidas de restrição para tentar conter a disseminação da cepa pesaram no humor dos agentes financeiros hoje. No fim de semana, na Holanda, medidas de restrição parcial foram adotadas: restaurantes, locais de lazer e lojas não essenciais serão fechados até 14 de janeiro.
Assim, o dia foi marcado por queda nas principais bolsas de valores do mundo. Em Nova York, o Dow Jones terminou o pregão em baixa de 1,23%, o S&P 500 caiu 1,14% e o índice Nasdaq recuou 1,24%. Na Europa, o Stoxx 600 perdeu 1,38%. As principais referências das bolsas de Londres, Frankfurt e Paris recuaram 0,99%, 1,88% e 0,82%, respectivamente.
De acordo com Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg, mesmo que as doses de reforço sejam eficazes na redução dos riscos médicos, uma rápida disseminação da ômicron ainda pode sobrecarregar os sistemas de saúde e forçar os países a seguir a Holanda e adotar restrições que limitam a atividade econômica. Em seu cenário negativo, haveria queda de 1% do PIB na zona do euro e no Reino Unido no primeiro trimestre de 2022, em vez de um crescimento modesto, caso restrições ao estilo holandês sejam impostas e mantidas ao longo de janeiro.
Os receios relacionados ao vírus pressionam ações ligadas ao turismo, companhias aéreas e shoppings centers. As ações da CVC ON caíram 8,76%, liderando as perdas do dia, BR Malls ON caiu 6,66%; Azul PN recuou 3,58%, Gol PN caiu 4,24% e as units do Iguatemi fecharam em baixa de 5,54%.
Com a queda expressiva dos preços do petróleo, resultado dos temores relacionados à demanda global por energia, o setor de óleo e gás da bolsa local também exibiu forte baixa na sessão desta segunda-feira. PetroRio ON caiu 5,86%, Grupo Ultra ON perdeu 5,73%, e Petrobras PN caiu 2,86%.
Também pesaram sobre o sentimento dos investidores hoje as perspectivas de que o senador democrata Joe Manchin vai se opor ao pacote de infraestrutura de cerca de US$ 2 trilhões de seu partido - o que provavelmente acaba com as chances de aprovação do projeto.
Assim, o Goldman Sachs aponta que a aprovação do "Build Back Better", como é batizado o pacote, não é mais o cenário-base da instituição. "À luz de nossas suposições fiscais alteradas, estamos reduzindo nossa previsão de PIB real para 2022: 2% no primeiro trimestre (de 3% antes), 3% no segundo trimestre (de 3,5%) e 2,75% no terceiro trimestre (de 3%)", afirma a equipe de economia da instituição, liderada por Jan Hatzius.
Aliadas às perspectivas de menor crescimento econômico nos Estados Unidos, o setor imobiliário da China segue demonstrando dificuldades. Segundo a Pantheon Macroeconomics, rumores de problemas de pagamento em outra incorporadora imobiliária, a Shimao, destacam o estresse contínuo no setor.
"A Shimao era classificada como grau de investimento, ao contrário de Evergrande e Kaisa, e se estiver enfrentando problemas semelhantes, a implicação é que a podridão se espalhou para galhos aparentemente robustos da árvore imobiliária", afirma Craig Botham, economista-chefe de China da consultoria.
"Espere uma nova deterioração nas vendas de casas de níveis já terríveis, à medida que os compradores de casas encaram a possibilidade real de que quase nenhum desenvolvedor seja seguro. As receitas das incorporadoras e o investimento em propriedades diminuirão ainda mais", afirma.
Com pressões vindas dos Estados Unidos e da China, as ações de siderúrgicas encerraram o pregão de hoje em queda expressiva. CSN ON recuou 6,91%, Usiminas PNA caiu 5,60% e Gerdau PN fechou em baixa de 5,93%. Mesmo com a alta do minério de ferro, a Vale ON perdeu 1,12%.