O Brasil atingiu nova e triste marca na pandemia da covid-19. Nesta quinta-feira, o país passou das 400 mil mortes pela doença, segundo levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de Saúde. Especialistas dizem que o coronavírus seguirá fazendo estragos e que o número de vítimas pode chegar a 500 mil, 600 mil. E alertam: uma terceira onda não é realidade distante.
Com mais 3.074 óbitos contabilizados no boletim das 20h de hoje, são 401.417 vidas perdidas para o novo coronavírus.
No passo atual da pandemia no país, transcorreram apenas 36 dias entre as marcas de 300 mil e 400 mil mortes. É o ritmo mais intenso desde a chegada da doença.
Os primeiros 100 mil óbitos ocorreram ao longo de 149 dias. Os 100 mil seguintes aconteceram em um intervalo de 152 dias. Dos 200 mil para os 300 mil óbitos, passaram apenas 76 dias, ritmo que acelerou para os 36 dias até chegar às 400 mil mortes.
Abril não terminou, mas já é o mês mais letal da pandemia no país. De 1 a 29 de abril foram 78.135 mortes. Março, com 31 dias, e até então o pior mês, teve 66.868 óbitos.
De acordo com o balanço de hoje, fechado às 20h, foram registrados 69.079 novos casos da doença de ontem para hoje, elevando o total de infectados no país a 14.592.886.
A média móvel de novos casos no Brasil na última semana foi de 60.107 por dia, o que representa uma queda de 8% em relação aos dados registrados em 14 dias.
Terceira onda
Não há medidas de distanciamento social duras e apoio a empresas e pessoas suficiente para conter a circulação do vírus. Enquanto isso, comércio e serviços reabrem e a vacinação patina desde sempre.
Países que fizeram lockdown “de verdade”, como Nova Zelândia, Austrália e China, conseguiram controlar a pandemia antes mesmo de iniciar a vacinação da população. Exemplo do que epidemiologistas, infectologistas e outros especialistas da saúde insistem desde o início da pandemia no Brasil.
Agora, países que viram a pandemia fugir do controle, como Estados Unidos e Reino Unido, mas voltaram ao básico – máscaras, distanciamento social, vacinação em massa – começam a permitir a circulação de pessoas, mesmo sem máscaras, como em algumas situações em algumas regiões nos EUA. Necessário lembrar que antes disso, medidas rígidas de distanciamento diminuíram a circulação do vírus, porque só vacinação não resolve o problema.
Epidemiologistas alertam que mesmo com o avanço da vacinação é preciso diminuir a circulação do vírus a fim de impedir que novas e mais contagiosas variantes apareçam, como a temível P.1, que a partir de Manaus se espalhou pelo país. Novas cepas podem, em tese, escapar da imunidade proporcionada pelas vacinas.
Neste sentido, o Brasil não saiu da zona de alerta porque após a segunda onda entre março e abril matar 100 mil pessoas, o número de casos, mortes e internações começa a ceder no país, mas esses três indicadores permanecem em níveis muito altos. A média móvel é de mais de 2,5 mil mortos por dia.
Segundo o boletim de hoje do consórcio de imprensa, a média móvel de mortes nos últimos sete dias foi de 2.523 por dia, um recuo de 12% em relação aos casos registrados em 14 dias.
A possibilidade de uma terceira onda é real. Poucos meses após o colapso da rede de saúde causado pela explosão de casos da covid-19, o Estado do Amazonas prevê um novo recrudescimento da doença. Além de mais óbitos, essa onda amplia a chance de surgirem novas variantes ou “supervariantes” do vírus, resistentes às vacinas. E, a exemplo da anterior, a terceira onda tende ainda a se espalhar por outros Estados.
O alerta partiu do próprio governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que levou a Brasília, na semana passada, um plano de contingência e pediu apoio ao Ministério da Saúde para evitar um novo colapso.
Em entrevista ao Valor, a epidemiologista Gulnar Azevedo, do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), afirma que, sem medidas de restrição adequadas, o país corre o risco de ter “uma nova explosão de casos”. “Não é a vacinação que vai frear isso. É o lockdown”.
Economistas já estão calculando os riscos de o Brasil ser atingido por uma eventual terceira onda da pandemia. Reportagem do Valor na semana passada mostrou que alguns bancos já tentam calcular seu impacto. O JPMorgan, por exemplo, desenvolveu um modelo matemático e estatístico que projeta, no seu cenário central, um novo recrudescimento dos casos da covid-19 a partir de agosto, se as medidas de distanciamento social forem relaxadas nos próximos três meses.