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Por Fernanda Simas e Roberto Lameirinhas, Valor — De São Paulo


Em plena campanha eleitoral, o governo argentino busca aliviar a escassez de divisas estrangeiras com o lançamento de uma nova cotação, o “dólar Vaca Muerta”. Segundo analistas, trata-se de uma desvalorização disfarçada.

A medida visa aproveitar o momento das exportações recordes de petróleo e gás produzidos no polo de Vaca Muerta, no sul do país, e compensar o fim do prazo das liquidações de exportações taxas diferenciadas do “dólar soja”.

O mais novo tipo de câmbio, que se soma aos mais de 15 que existem na Argentina, foi anunciado na terça-feira à noite pelo ministro da Economia e candidato presidencial governista, Sergio Massa. Ele passa a vigorar em outubro, seguirá a cotação do “dólar contado con liqui (CCL)” — que estava ontem em 791 pesos, bem acima da taxa oficial de 366 pesos — e permanecerá em vigor por 60 dias. O governo espera, com a medida, arrecadar US$ 1,2 bilhão.

A ação é uma estratégia de Massa para manter um fluxo de entrada de dólares que permita intervenções para conter a pressão de alta sobre a moeda americana no câmbio paralelo — que tem forte impacto na inflação, que chegou em agosto a 124,4% ao ano. Após desvalorizar o peso em 18% no câmbio oficial no dia seguinte as primárias de 13 de agosto, Massa congelou o câmbio e os preços dos alimentos até 31 de outubro.

Para analistas, as ações fatiadas em setores são um subterfúgio do governo, que se comprometeu a não promover uma desvalorização generalizada até o primeiro turno das eleições, no dia 22. Só que o governo precisa trazer algum alívio às reservas — nos níveis mais baixos dos últimos anos — e ainda manter sua capacidade para intervir no mercado de câmbio. “As desvalorizações setoriais dão ao governo a oportunidade de ganhar algum tempo e conter prejuízos eleitorais”, diz o consultor econômico Gustavo Marangoni.

“Tudo o que Massa pode fazer é continuar a mitigar a escassez de divisas e ganhar tempo”, diz Luis Secco, economista e diretor da consultoria Perspectiv@s. “Na prática, o governo está promovendo uma desvalorização que lhe dará algum respiro para gerar alguma divisa sem desvalorizar oficialmente”, afirma.

Para Secco, esse tipo de desvalorização disfarçada tem pouca perspectiva de sucesso. A desvalorização do câmbio oficial após as eleições primárias, por exemplo, já se tornou irrelevante, na medida em que a diferença (ou spread) para a cotação do dólar no paralelo aumentou em vez de diminuir.

Na verdade, esse spread se acelerou ontem e chegou a 120,86% — dos cerca de 105% de antes das primárias. O dólar paralelo, em alta acelerada desde agosto, fechou ontem cotado a 773 pesos.

Os analistas avaliam que, após o dia 22, a situação cambial na Argentina deve passar por uma crise ainda mais profunda. “Poucos dias após as eleições, quando acabar o prazo de congelamento, espera-se uma nova desvalorização significativa [do peso]”, afirma Secco. “Mas fazer isso sem um programa não leva a resultados duradouros. Este tem sido um comportamento bastante comum deste governo: o de adiar tudo que se pode postergar. Não devemos esperar nenhuma solução efetiva até que o próximo governo assuma”, afirma.

Massa disputa o primeiro turno com o favorito ultradireitista Javier Milei e com a centro-direitista Patricia Bullrich. As pesquisas mais recentes indicam que Milei deve garantir sua passagem para o segundo turno, em 19 de novembro. Massa e Bullrich disputam a outra vaga.

A ideia de reforçar o caixa de dólares com as exportações de Vaca Muerta ganhou força com o aumento da produção do polo e a alta do preço do petróleo para perto de US$ 100 o barril. Ontem, o tipo Brent, referência internacional, fechou a US$ 96,55, alta de 2,8%.

A produção do campo atingiu recorde em agosto — com 328 mil barris/dia de petróleo e 97 milhões de metros cúbicos por dia de gás — e caminha para repetir o bom resultado em setembro. Segundo o governo, a criação da nova cotação deve estimular o setor de energia e abrir oportunidade para atrair investimentos que sustentem os níveis de produção.

 — Foto: Andrew Harrer/Bloomberg
— Foto: Andrew Harrer/Bloomberg
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